Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

CNTM

Dilma foi enquadrada, diz presidente da Força

BR: “Pela pressão toda, ela percebeu que iria cair se levasse a CPMF adiante”, diz sindicalista Miguel Torres ao BR:; imposto do cheque seria elemento a mais para desemprego, acredita ele; “Nesta crise, qualquer pretexto é motivo para o patrão desempregar”; líder da Força afirma que governo ainda precisa provar que quer mesmo “um diálogo sério e honesto com os trabalhadores”; realização do Fórum Tripartite de Emprego e Desenvolvimento, nesta semana, em Brasília, será prova dos nove; “Se a equipe econômica impuser agenda de retirada de direitos, vamos nos retirar e partir para a luta aberta”, adianta Torres; “Dilma ainda tem de nos provar que quem manda no governo é ela, e não o Joaquim Levy”

A presidente Dilma Rousseff teve pela primeira vez, em meses, uma atitude sensata, ao desistir da recriação do imposto do cheque. “Ela foi enquadrada”, resumiu ao BR: o presidente da central Força Sindical. “Ao que parece, o Temer foi lá e avisou que ela iria cair se insistisse com isso”, completou Miguel Torres. Muitas outras atitudes sensatas da presidente, porém, ainda têm de ser tomadas para que o governo prove que quer mesmo um diálogo sério e honesto com os trabalhadores, assinala o dirigente; “A crise é muito grave, a situação política é muito delicada”, descreveu Torres ao BR:; “Se Dilma acha que ainda pode fazer coisas sem consultar a sociedade, o que vai acontecer é que, simplesmente, ela vai cair”, apontou o sindicalista. “E se cair, caiu, a nossa luta vai continuar com Dilma ou sem Dilma”.

Confira a entrevista:


 

BR: A ideia de recriar a CPMF foi abortada pela presidente Dilma Rousseff. O que esse novo imposto poderia significar para os trabalhadores?

MIGUEL TORRES: Dilma foi enquadrada. O (Michel) Temer, os empresários, esse pessoal todo mandou o recado: se ela insistisse, iria cair. E, ai, ela acordou e recuou. A CPMF é, sim, um imposto justo, porque tem cobrança proporcional, mas só pode ser aceito se vier no contexto de uma reforma tributária estruturante, completa. Assim, de improviso, só serviu para desgastar ainda mais esse governo. Por que o governo não falou em taxar as grandes fortunas? Por medo. Então, veio de CPMF, mas nem isso conseguiu. Melhor assim, porque essa debate em cima de medidas apresentadas de uma hora para a outra, sem discussão, sem preparação, só prejudica os trabalhadores. O momento não é de criação de impostos. Uma nova CPMF seria um pretexto a mais para os patrões justificarem e ampliarem o desemprego. Iriam alegar uma nova despesa, aumento de custo, retração no lucro, aquela cartilha toda que a gente já conhece. Nesse momento, a CPMF seria mais uma ameaça contra os trabalhadores.

BR: Dilma não mostrou muita fraqueza em lançar uma ideia do tamanho de 80 bilhões de reais de arrecadação num dia e recuar praticamente no outro, em meio a uma grita geral?

TORRES: Sim, mas isso é porque a presidente está fraca mesmo. É um fato. Esse recuo talvez tenha sido para ela o despertar de um sono profundo. No mês passado, a equipe econômica resolveu que iria adiar o pagamento do 13º salário aos aposentados, mas os trabalhadores soaram um despertador sobre os ouvidos da presidente. Unidas, todas as centrais sindicais reclamaram forte, até o ponto de o governo entender que não poderia ser daquele jeito e, finalmente, assegurar o pagamento do benefício. Ali, Dilma abriu um olho, ela que parece estar dormindo para o que se passa na sociedade. Agora, aconteceu de novo com a CPMF, a reação contra foi grande. Parece que ela abriu o outro olho e, finalmente, pode despertar.

BR: Como a Força Sindical poderá saber ao certo se a presidente acordou mesmo?

TORRES: À medida em que fizer um diálogo sério e honesto com os trabalhadores, Dilma estará provando que quem manda no governo é ela, e não o Joaquim Levy (ministro da Fazenda). O que tem acontecido é que setores do governo nos incentivam ao diálogo e a negociação (dez dias atrás, o ministro Miguel Rossetto, das Relações Institucionais, se reuniu com a diretoria da Força), mas enquanto a gente conversa de um lado, a equipe econômica trabalha contra nós do outro. Agora mesmo o governo lança no ar isso de mexer em direitos previdenciários como pensão por invalidez, auxílio doença e também idade mínima para aposentadoria. Essa não é uma atitude séria.

BR: O governo chamou as centrais sindicais e o patronato para discutir a Previdência Social dentro do Fórum Tripartite de Desenvolvimento e Emprego, marcado para esta semana em Brasília. Como vai ser isso?

TORRES: A Força Sindical e todas as outras centrais se prepararam muito para este fórum. Nós fizemos seminários, ouvimos nossas bases, consultamos uma série de técnicos, enfim, tiramos uma posição em profundidade. Só que, nas vésperas da realização do fórum, a gente começa a ler nos jornais que a equipe econômica quer tirar da Previdência Social, que deveria ser uma garantia para a aposentadoria dos trabalhadores, uma série de benefícios. Ora, isso não é um diálogo sério. Chamam a gente para conversar, mas já tem tudo pronto para nos prejudicar. É inadmissível.

BR: Qual vai ser a atitude da Força?

TORRES: Em relação ao fórum tripartite, se o governo vier com proposta de mexida em direitos, em lugar de deixar a pauta aberta para nossas propostas de reestruturação completa da Previdência Social, nós vamos nos retirar daquele recinto imediatamente. O diálogo terá acabado ali mesmo. E vamos para a luta franca na sociedade contra esse governo que terá provado, por essa falta de seriedade, que quer mesmo é nos prejudicar. Um governo assim não serve.

BR: O sr. fez campanha para Aécio Neves contra Dilma nas eleições presidenciais. Está na hora do impeachment?

TORRES: Para o impeachment eu não vejo a existência dos fatores legais que levem o Congresso a abrir formalmente esse debate. Mas se for para seguir de braços cruzados diante da crise, se for para deixar o desemprego acabar com a indústria, se for para os juros e a inflação acabarem com o setor de serviços, se for para a falta de crédito destruir a agricultura, enfim, se for para ficar lá em Brasília alimentando a crise com um ajuste fiscal apressado, atrapalhado e particularmente prejudicial aos trabalhadores, então acho que a melhor atitude de Dilma seria mesmo a renúncia. Quem foi eleita foi ela, e não o Joaquim Levy. Se quer mesmo ficar no cargo, Dilma tem de passar a governar.