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A tática da dispersão continua; é preciso fugir dessa perversão

Essas tentativas de desdizer a história e os fatos políticos históricos estão dentro de plano estruturado de manter sempre a oposição dispersa debatendo “fumaça”. É um ardil, que precisa ser evitado a todo custo.

Marcos Verlaine*

A dispersão mais recente parte do novo ministro da Educação, o economista e professor Abraham Weintraub empossado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) nesta semana em substituição ao ex-ministro Ricardo Vélez Rodriguez, demitido no dia 8.

Weintraub foi um dos integrantes da equipe do governo de transição comandada pelo atual ministro Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Ele e seu irmão, o advogado Arthur Weintraub — que também integra o governo, como assessor-chefe adjunto da assessoria especial do presidente da República — participaram da formulação do programa de governo de Bolsonaro na área de Previdência, na equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.

A mais nova falsa polêmica ou dispersão vem do ministro Weintraub que defendeu que as universidades do Nordeste deixem de aplicar disciplinas como sociologia ou filosofia para focar no ensino de agronomia. Isto é algo tão estulto que não merece que se perca tempo contraditando. É preciso tirar imediatamente de plano e passar ao que de fato interessa.

A declaração foi dada durante transmissão ao vivo nas redes sociais em setembro do ano passado. Na live, ao lado do Luis Philippe Bragança, que se elegeu deputado federal pelo PSL, Weintraub explicava o plano de governo para a área de energia do então candidato Jair Bolsonaro.

Essa declaração está no contexto da não agenda ou agenda da dispersão ou ainda da perversão deste governo, que desalenta os opositores, porque insulta a inteligência e o bom senso. Isto é feito para causar exatamente esse estado de espírito e fazer a agenda que interessa passar ao largo ou ser debatida de modo rarefeito.

Discípulo do autoproclamado professor de filosofia Olavo de Carvalho, Weintraub é mais um “polemista de fumaça”. Ao estilo do presidente da República e o seu núcleo ideológico-diversionista. Cujas pataquadas ganham expressão na mídia tradicional e também nas redes sociais porque causam estupefação, do tipo, a “terra é plana”, o “nazismo é de esquerda”, “não houve ditadura”, o “marxismo cultural”, entre outras bobagens usadas para tirar de foco que no exercício do poder nada de bom estão fazendo pelos mais pobres e necessitados. Pelo contrário!

Essas tentativas de desdizer a história e os fatos políticos históricos estão dentro de plano estruturado de manter sempre a oposição dispersa debatendo “fumaça”. É um ardil, que precisa ser evitado a todo custo.

Como o governo não tem pauta estruturada, a não ser a reforma da Previdência e toda a polêmica que lhe envolve, lançará mão dessa tática o tempo todo. Assim, pauta a oposição com falsos dilemas, que mais transtornam do que levam há algum lugar concreto.

A propósito, é preciso dizer que a reforma da Previdência não resolverá todos os problemas estruturais do país. Em alguma medida esse discurso foi feito com a “redentora” Reforma Trabalhista. Taí o resultado, o desemprego só tem aumentado. Não há no horizonte perspectivas para reduzi-lo.

O desemprego no país foi de 12%, em média, no trimestre encerrado em janeiro, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O índice subiu em relação ao trimestre anterior (11,7%) após 2 quedas consecutivas. Na comparação com o mesmo período do ano passado (12,2%), o resultado foi considerado estável pelo instituto.

Segundo o IBGE, o número de desempregados no Brasil foi de 12,7 milhões de pessoas, no final de fevereiro. Isso representa alta de 2,6% em relação ao trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período de 2018, houve estabilidade.

Ninguém cobra do governo uma agenda para reduzir o desemprego, a crescente violência urbana, cuja relação está diretamente ligada ao desemprego, falta de renda e o desalento a que estão submetidos parcela expressiva de brasileiros pobres e sem perspectiva.

O governo Bolsonaro começou mal e vai mal. É mal avaliado. Até o presente momento, depois de 100 dias de gestão, não foi capaz de apresentar algum plano para enfrentar os reais problemas na economia, por exemplo. O país enfrenta depressão econômica e o presidente passa o tempo todo fazendo disputas ideológicas rebaixadas.

No início do ano a Ford anunciou que ia fechar as portas no ABC paulista, com o comprometimento de mais de 3 mil postos de trabalho. O governo está inerte diante disso. Nada propõe para evitar essa tragédia para milhares de famílias. Um cidadão foi assassinado, por engano, no último final de semana, por soldados do Exército no Rio de Janeiro. O presidente tuíteiro não foi capaz de emitir uma linha de solidariedade com a família.

Estamos diante de um não governo. É preciso que a oposição se posicione diante dos grandes temas nacionais. Do contrário não será alternativa de poder mesmo diante de um dos governos mais mal avaliados desde a redemocratização.

(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap

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